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O jornal o Estado de São Paulo de ontem
(foto) traz, em editorial, velados elogios à conduta da Força Sindical em promover assembléias pelo Estado de São Paulo conclamando os trabalhadores a aceitarem a redução de direitos garantidos em lei. A CUT enviou à toda imprensa nacional o texto abaixo, reproduzido pelo Informacut, contestando algumas inverdades ditas (escritas) no editorial.
O velho sindicalismo continua em ação
O direito a ter, e a divulgar, a própria opinião sem dúvida é inquestionável. Mas distorcer os fatos ou utilizar-se de meias verdades para, a partir do editorial "O novo sindicalismo em ação" (publicado em O Estado de São Paulo de 19/03/2202,) justificar posições ideológicas já é diferente.
Muitas das supostas 25 a 30 mil pessoas (pois segundo a PM eram cerca de 10 mil) que participaram da assembléia dos metalúrgicos da Força Sindical, lá compareceram por conta da promessa de sorteios de carros - e não sabemos financiados por quem.
Essas mesmas pessoas também não estavam tão bem informadas sobre o que seria decidido, como quer fazer crer o editorial.
Tomamos a liberdade de transcrever o trecho final de reportagem publicada no Jornal da Tarde (18/03/2002): "A Força pretendia tirar dúvidas dos trabalhadores. No entanto, muitos deles nem prestaram atenção no discurso e admitiram que estavam lá apenas para receber os prêmios sorteados.
"Vim para ver o sorteio dos carros, mas já são 11h30 e esse pessoal não pára de falar dessa tal de CLT", reclamou Denílson Augusto Mourão, que saiu às 7h de Santo André para assistir à assembléia. Sua mulher, Fátima, não conseguiu entender o que os sindicalistas falavam pelo microfone. "Bem que eles podiam colocar um forró até a hora do sorteio,
né?", sugeriu."
Teria sido mera coincidência a reportagem do JT (ligado ao grupo Estado) achar logo o único casal desinformado, ou seria porque a maioria realmente não sabia das implicações do que seria aprovado na assembléia?
A assembléia também não teve a pretensa representatividade desejada pelo editorial, visto que o Brasil todo tem cerca de 1,2 milhão de metalúrgicos (aproximadamente 60% deles representados pela CUT) e perto de 320 mil na grande São Paulo; os dois números, portanto, bem distantes dos 700 mil citados pelo o Estado.
Quanto ao fato da CUT se colocar contra essa mudança na CLT, nada mais coerente com nossa trajetória. Nunca fomos a favor de retirar direitos dos trabalhadores e, no nosso entendimento, a mudança proposta retira, sim, direitos. É clara a existência de uma armadilha para os trabalhadores, pois se coloca como objeto de negociações futuras, coisas que a lei já garante hoje - ou seja: as mudanças não são para que se possa negociar ampliação de direitos, mas para poder diminuir os que já existem, à semelhança do que ocorreu quando acabaram com a lei que determinava o reajuste dos salários pela inflação do período, causando brutal perda no poder aquisitivo dos trabalhadores.
O que sempre defendemos foi modernizar, de fato, as relações capital-trabalho, o que passa, entre outras coisas, por adotar o contrato coletivo de trabalho, nacionalmente articulado, a criação de uma nova estrutura sindical, realmente representativa. Ou seja: tudo o que o entulho autoritário da CLT, e mantido intocado pela proposta do governo, impede.
É a coerência com nossos princípios que nos transformou na maior central sindical do país, e uma das grandes no mundo, e que nos faz crescer dia a dia. Diferentemente de outros setores que, preocupados mais com as verbas públicas do que com os trabalhadores, perdem apoio e credibilidade.
Em tempo: todos os meses de 20 a 30 sindicatos solicitam filiação à CUT. Já na Força Sindical, somente por conta do projeto da alteração na CLT, 47 sindicatos do Mato Grosso do Sul e a Federação dos Gráficos de São Paulo, entre outros, saíram dessa central. E manifestaram-se publicamente contra o projeto do governo a Força Sindical estadual de Minas Gerais e do Paraná, bem como o presidente estadual da FS em São Paulo e o presidente do sindicato dos hoteleiros de São Paulo, vice-presidente nacional da FS, e a Federação da Alimentação de São Paulo.
Por tudo isso, achamos que "o novo sindicalismo em ação" do título do referido editorial, não passa do velho sindicalismo pelego, sustentado (aliás, confessamente) por empresários e governo.
João Antônio Felicio
Presidente Nacional
Central Única dos Trabalhadores
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